Foto: Otávio Santos/ Secom PMS
Texto: Letícia Silva e Ana Virgínia Vilalva/ Secom PMS
A capital baiana sediou, nesta segunda-feira (3), o Simpósio Internacional sobre Justiça Climática e Adaptação de Periferias Vulnerabilizadas, evento que integra a Semana Pré-COP30 e o Programa Salvador Capital Afro. Organizado pelo Coletivo Nacional de Organização Negra (Connegro), a atividade ocorreu na Assembleia Legislativa da Bahia e reuniu lideranças comunitárias, movimentos negros, quilombolas, indígenas, pesquisadores, gestores públicos, além de representantes internacionais para debater os impactos da crise climática sobre populações historicamente marginalizadas.
A palestra magna contou com a presença da procuradora da Advocacia Geral da União (AGU) Manuellita Hermes, que falou sobre a ‘Justiça Climática e Governança Global: o papel das cidades e das periferias na agenda de adaptação’.
“É impossível abordar a justiça climática sem a perspectiva social e racial. E é extremamente importante a sociedade civil estar envolvida. Trago aqui dados em relação aos percentuais da população negra, indígena e mulheres atingidas pelos impactos da mudança climática. Esse público sofre as consequências, com escassez de acesso à água e saneamento básico”, disse a procuradora.
Na prática, o simpósio representa o posicionamento da sociedade civil diante da crise climática e da ausência histórica das periferias e comunidades tradicionais nas decisões ambientais globais. A ação faz parte do Circuito de Escutas do Projeto Carta de Salvador, que percorre o Brasil e a África recolhendo contribuições para o documento a ser entregue aos líderes da COP30, em Belém.
O presidente do Connegro, Cristiano Santos, afirmou que Salvador se colocou como uma espécie de frente de representação dessas populações. “O projeto Carta de Salvador foi pensado exatamente para que a gente pudesse mostrar aos dirigentes da comunidade global, em especial aqueles que ditam o direcionamento de recursos. Salvador está se apresentando nesse momento como referência.”
O presidente também lembrou dos temas debatidos no evento, que foram desde a justiça climática e adaptação, com diversas nuances do tema aos grupos temáticos, trazendo questões mais específicas, voltadas, por exemplo, para as comunidades extrativistas, marisqueiras, pescadores artesanais, mulheres empreendedoras e a juventude.
O secretário de Sustentabilidade, Resiliência e Bem-Estar e Proteção Animal (Secis), Ivan Euler, lembrou que o simpósio, na véspera da COP30, é importante por discutir temas e soluções para que a justiça climática aconteça na capital baiana.
“Nós, na Secis, temos feito uma série de ações na cidade. Já registramos chuvas intensas em períodos em que não era costume, além de elevação de temperatura, do calor e do mar, já que somos uma cidade costeira. E temos uma população mais vulnerável e carente que mais sofre com isso. Por isso, estamos pensando formas, projetos, soluções e programas para que essa população tenha menos impacto”, frisou.
O diretor-geral da Defesa Civil de Salvador (Codesal), Sosthenes Macêdo, afirmou que as mudanças climáticas vêm trazendo uma série de mudanças nas vidas das pessoas, especialmente as hipossuficientes, que constroem os lares em lugares de risco.
“Quando a gente observa as mudanças climáticas trazendo mais chuvas, mais calor e apresentando uma série de problemas para as populações, os mais vulneráveis tendem a ter um impacto maior nas suas vidas. Por isso, a Codesal vem implementando uma série de programas preventivos”, disse Macêdo.
Ele destacou que, neste mês de novembro, será lançado um novo programa intitulado Mulheres Que Protegem, voltado para negras, mães monoparentais que cuidam dos seus lares e situadas nas áreas de risco da cidade. “Essas mulheres, referências nas comunidades, serão o fio indutor das discussões preventivas. Nosso objetivo é que a gente possa construir uma Salvador cada vez mais resiliente”, concluiu.
Carta — Durante o encontro, foi sistematizada e apresentada a Carta de Salvador, reivindicando financiamento climático, adaptação de periferias vulneráveis e reparação histórica. A iniciativa se conecta diretamente a Objetivos de Desenvolvimento Sustentável como o ODS 10 (Redução das Desigualdades), o ODS 11 (Cidades Sustentáveis), o ODS 13 (Ação Climática), o ODS 16 (Instituições Eficazes) e o ODS 18 (Igualdade Étnico-Racial).
Aos 21 anos, o estudante do Senai Cimatec João Gomes soube do evento através de um coletivo da universidade para pessoas negras, chamado Black Cimatec. “A partir da iniciativa, quis saber mais sobre essas questões e falar amplamente sobre a justiça climática. Hoje, a gente entende que essas normas e planos passam por um processo e se encaixam em um ciclo. É preciso pensar na informação circular. Como eu, que não ocupo um cargo de poder, posso contribuir para as mudanças climáticas?”, questionou o jovem.
A Semana Pré-COP30 Salvador representa uma convergência inédita com legitimidade política e comunitária, metodologias criativas de mobilização e ampliação da dimensão diplomática e internacional das discussões, projetando Salvador como espaço de diálogo com cidades de diversos países. Toda programação pode ser conferida no endereço eletrônico www.precop30.salvador.ba.gov.br.
A partir do dia 10 de novembro, a delegação da Prefeitura da cidade chega a Belém, palco das discussões da cooperação das partes, onde apresentará iniciativas municipais ligadas à gestão de resíduos sólidos, estratégias de ação climática e um diálogo sobre gestão de grandes eventos e sustentabilidade.
Acesse a galeria de fotos: https://comunicacao.salvador.ba.gov.br/simposio-internacional-sobre-justica-climatica-e-adaptacao-de-periferias-vulnerabilizadas/ .