Foto: Heder Novaes/Divulgação
Reportagem: Eduardo Santos/Secom PMS
Importante ferramenta de incentivo cultural, de iniciação à arte ou para dar aquele empurrãozinho que falta à carreira de artistas da periferia da capital baiana, o programa Boca de Brasa, da Fundação Gregório de Mattos (FGM) garante visibilidade a novos criadores nas áreas da música, literatura e atuação. Esse é o caso da cantora Andrezza, de 28 anos, fruto do Acelera Boca de Brasa, que trabalha a própria carreira a partir de influências diversas, que vão desde o rock à música pop baiana contemporânea, fazendo transparecer no trabalho todo o caldo cultural dos lugares de onde garimpou régua e compasso.
“Minha trajetória teve início na infância, construindo uma carreira na base da tentativa e erro. No programa Boca de Brasa pude olhar com certo distanciamento para o meu trabalho, e entender quais rumos eu deveria tomar a partir de então. Foi um grande divisor de águas, com encontros com outros artistas, processos criativos, tudo isso me ajudou a recalcular minha rota, e é algo que carrego com muito carinho, uma experiência que guardo no coração”, destaca a artista.
Natural de São Paulo, Andrezza tem na Bahia um verdadeiro porto seguro. Com dois álbuns independentes gravados, ambos na cidade de Juazeiro (BA), ela canta, toca e compõe e se prepara para lançar um novo trabalho, com base no repertório da atual turnê, chamada Trauma Show, que nasceu no Acelera Boca de Brasa.
“Nasci em São Paulo, mas meu umbigo foi ‘enterrado’ em Uauá, distante 420 km de Salvador. Estrategicamente eu falo que sou de Uauá, pois sei o quanto é importante que esta cidade seja vista e reconhecida. Minha família materna é de lá. E é a partir de lá que me reconheço. Porém, tudo que construí artisticamente aconteceu em Juazeiro. Cada cidade tem uma função importante no meu coração”, relata.
Fortalecimento – Propondo o fortalecimento, a profissionalização e a inserção desses artistas no mercado cultural da capital baiana, o programa Boca de Brasa impactou, nos últimos dois anos, mais de 60 mil pessoas, entre artistas, público e a própria economia criativa da cidade. Neste período, 362 certificados foram emitidos, 60 mentorias, e 15 iniciativas aceleradas, em regiões como Itapuã, Barra, Pituba, Subúrbio, Valéria, Centro e Cidade Baixa.
O presidente da FGM, Fernando Guerreiro, lembra que a iniciativa é muito mais do que um projeto cultural. “Este é um movimento que fortalece a potência criativa das periferias. Os espaços culturais Boca de Brasa funcionam como pontos de encontro, troca e formação, promovendo acesso, visibilidade e oportunidade para artistas, grupos e coletivos que muitas vezes estão à margem do circuito tradicional. É uma engrenagem importante da economia criativa, que movimenta renda, valoriza identidades e transforma realidades a partir da arte”, revela.
Acelera – O sistema de aceleração, chamado Acelera Boca de Brasa, tem por objetivo fortalecer e impulsionar as iniciativas artísticas em Salvador, com mais de 320 horas de atividades, envolvendo laboratórios, mentorias, imersões, experimentações e desenvolvimento dessas iniciativas e projetos. Na formação, os participantes têm direito a uma bolsa estímulo e um incentivo financeiro, chamado de “capital semente”, para impulsionar as iniciativas.
Para Odillon (ex-DICERQUEIRA), de 33 anos, o Acelera Boca de Brasa foi muito importante para o crescimento dele como artista, fazendo com que adquirisse uma nova visão sobre o que é gerir uma carreira artística. “A parte criativa é importante, é legal, mas a parte de gestão de tudo isso é, às vezes, mais importante do que o próprio fazer artístico”, pontua.
“Antes de começar a minha carreira profissional, há três anos, fazia parte do coral do colégio. A partir daí, as coisas foram acontecendo. Nos últimos anos cheguei a vencer um prêmio de música do Festival da Educadora FM, que é um dos maiores prêmios de música aqui da Bahia. E estou seguindo aí a minha trajetória, já tenho alguns anos de aprendizado, de amadurecimento e agora estou trabalhando no projeto de alguns lançamentos, do meu álbum novo, que ainda não tem previsão para a saída, mas se tudo der certo, ano que vem eu estou cortando as caras na rua e é isso”, completa Odillon, que carrega a bandeira do estilo chamado Global Ghettotech, uma mistura de música considerada global, como o hip hop e o reggae, com estilos locais.
Informações – Os interessados no Boca de Brasa podem acessar mais informações no site da FGM (https://fgm.salvador.ba.gov.br) ou na página do programa no Instagram (@bocadebrasa.fgm).