Foto: Adam Vidal/Secom PMS
O terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, um dos mais tradicionais de Salvador, situado em São Gonçalo do Retiro, receberá novas intervenções, inclusive artísticas, a serem realizadas pela Prefeitura. O anúncio foi realizado pela vice-prefeita e secretária municipal de Cultura e Turismo (Secult), Ana Paula Matos, durante encontro com a atual líder do templo religioso, Mãe Ana de Xangô, nesta sexta-feira (2), dia do centenário de nascimento de Mãe Stella de Oxóssi, ialorixá do Ilê Axé Opô Afonjá por mais de quatro décadas.
Na ocasião, também foram avançados nos trâmites visando a restauração do museu Ilé Ohun Lailai e a creche, que será implantada no espaço. As intervenções visam potencializar o espaço religioso, que atualmente enfrenta problemas estruturais e está fechado para visitação ao público, inserindo-o na rota do afroturismo de Salvador.
O simbolismo do movimento realizado na data em que se comemora o aniversário de Mãe Stella foi celebrado por Ana Paula Matos. “Neste dia tão simbólico, em que celebramos o centenário de Mãe Stella, dialogamos com Mãe Ana, sua sucessora, sobre as intervenções necessárias para preservar e fortalecer esse patrimônio da nossa cultura. Viemos prestar contas do status do que tinha sido acordado no nosso primeiro encontro e vamos viabilizar novas intervenções para o centenário de Mãe Stella. Estamos trabalhando para que o legado de Mãe Stella permaneça vivo em cada folha, cada canto, em cada mulher negra que lidera com coragem e sabedoria”, destacou.
A matriarca do templo religioso demonstrou otimismo em relação ao trabalho da Prefeitura no terreiro. “Tenho a certeza, dentro do meu coração, que isso que estamos plantando aqui vai se tornar realidade. Vejo que a requalificação será um marco para a história da cidade para dar continuidade à ancestralidade das iyás que passaram por aqui”, afirmou Mãe Ana de Xangô.
Além da vice-prefeita, a comitiva municipal foi formada pela secretária de Políticas Para Mulheres, Infância e Juventude (SPMJ), Fernanda Lordêlo; da diretora de Cultura da Secult, Maylla Pita; e da gestora do Gabinete Salvador Capital Afro, Ivete Sacramento.
Conceito – O museu Ilé Ohun Lailai, situado no terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, em São Gonçalo do Retiro, passará por obras de requalificação e terá todo o acervo restaurado pela Prefeitura. Conforme ficou definido durante a visita anterior com as presenças do prefeito Bruno Reis, da vice Ana Paula, do ex-secretário Pedro Tourinho e demais gestores municipais ao terreiro em agosto de 2024, a iniciativa será conduzida pela Secult Salvador em parceria com a Secretaria Municipal da Educação (Smed), pasta responsável por manter em operação a Escola Municipal Eugênia Anna dos Santos – estrutura referência no ensino da cultura matriz africana na cidade, que já funciona dentro do terreiro.
O museu Ilé Ohun Lailai surgiu em 1982, mais de sete décadas depois da fundação do Ilê Axé Opô Afonjá, em 1910, por Eugênia Anna dos Santos (Mãe Aninha). O local resguarda exemplares de plantas sagradas catalogadas, além de pertences como cadeiras e vestimentas da fundadora e das quatro sacerdotisas que comandaram o templo posteriormente: Mãe Bada, Mãe Senhora, Mãe Ondina e Mãe Stella de Oxóssi.
A criação do projeto expográfico e curadoria de conteúdos do lugar foram desenvolvidos com o acompanhamento de Mãe Ana de Xangô. O conceito adotado é tornar o ambiente interno do museu com aspecto similar à gameleira, árvore fortemente presente nos templos religiosos afro-brasileiros, criando um mergulho poético no universo simbólico e histórico do Opô Afonjá.
Legado – Maria Stella de Azevedo Santos, a Mãe Stella de Oxóssi, foi uma personalidade de grande destaque da cultura baiana e respeitada líder religiosa. Nascida em 2 de maio de 1925, em Salvador, foi a quinta ialorixá do terreiro Ilê Axé Opó Afonjá. No local, ela foi iniciada aos 14 anos, assumindo em 1976, aos 51 anos, a posição de matriarca do templo.
Primeira ialorixá no país a escrever livros, como “Meu tempo é Agora”, e artigos sobre o candomblé, Mãe Stella também lutou pelo resgate da cultura afrobrasileira e contra o racismo. Em 2013, foi eleita por unanimidade para ocupar a cadeira 33 da Academia de Letras da Bahia, cujo patrono é o poeta Castro Alves. A sacerdotisa faleceu na cidade de Santo Antônio de Jesus, no Recôncavo baiano, em 27 de dezembro de 2018.